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CRITICA | Assassinato no Expresso do Oriente

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Não é de hoje que estamos falando da escassez de originalidade em Hollywood. Com essa baixa de roteiros originais, as grandes produtoras estão apostando em remakes e adaptações literárias. E também acontece quando juntam os dois pra agitar o público que já conhece uma história seja pelo livro ou por uma produção já feita. Nesse último caso temos a mais nova adaptação de “Assassinato no Expresso do Oriente” (Murder On The Orient Express). Essa é a quarta adaptação para uma das obras mais aclamadas de Agatha Christie.

A escritora britânica, conhecida como “Rainha/Dama do Crime”, publicou mais de 100 livros ao longo da vida. Em dois séculos, ela foi considerada a maior romancista do mundo. Sendo que o número de vendas se seus livros só perdiam para a Bíblia e as obras de Shakespeare. Uma figura recorrente e famosa em suas obras era o Hercule Poirot. Um investigador belga de meia idade e muitas manias que desvendava os crimes mais sombrios e complicados. Uma de suas histórias mais famosas é o “Assassinato no Expresso do Oriente” que se baseia em um real assassinato.

Em 1934, Hercule Poirot (Kenneth Branagh) está na ensolarada Jerusalém para resolver um crime. Quando o conclui, decide tirar umas férias, mas um chamado da Inglaterra interrompe seus planos. Assim, Poirot acaba pegando o “Expresso do Oriente” que está muito cheio para aquela época do ano. A medida que a viagem segue, as paisagens mudam, assim como o clima por onde passam. É então que, durante uma das noites, no meio da viagem, uma tempestade causa um deslizamento de neve e tira o trem dos trilhos.

Além do detetive, entre os passageiros da primeira classe estão o gangster Edward Ratchett (Johnny Depp), o professor Gerhard Hardman (Willem Dafoe), o mordomo Edward (Dereck Jacobi), o conde Rudolph Andrenyi (Sergei Polunin) e sua esposa Elena Andrenyi (Lucy Boynton), o assistente Hector MacQueen (Josh Gad), a governanta Mary Debenham (Daisy Ridley), a missionária Pilar Estravados (Penélope Cruz), a viúva Caroline Hubbard (Michelle Pfeiffer), o vendedor Biniamino Marquez (Manuel Garcia-Rulfo), o médico Arbuthnot (Leslie Odon Jr), a princesa Natalia Dragomiroff (Judi Dench) e sua criada Hildegarde Schmidt (Olivia Colman). Na manhã seguinte ao deslizamento, um corpo é descoberto e todos passam a ser automaticamente suspeitos. Assim, a pedido de seu amigo Mr. Bouc (Tom Bateman), Hercule Poirot precisa desvendar todo o mistério antes que o trem volte a funcionar.

A nova adaptação é realizada por Michael Green (Blade Runner 2049″). Para conquistar o público ele fez uma série de modificações a obra. Não necessariamente influencia a dinâmica textual, mas sem dúvida isso acarretou algumas outras coisas. O primeiro ponto é o acréscimo de um humor mais popular e relativamente distante no humor inglês. Tal feito faz com que os personagens, principalmente Poirot, cative mais facilmente. O ritmo oscilante, o acréscimos e junção de algumas passagens da narrativa, também fazem a obra ser mais concisa, para a dinâmica direção. Contudo, os personagens envolvidos no crime tem seus contextos históricos reduzidos apenas ao final, deixando a desejar quando estão sob investigação. Seu ritmo é leve, com momentos sombrios quando necessário, mas em sua totalidade, a obscuridade literária, é deixada de lado. E isso torna a obra mais “pop”.

Ao contrário do que o segundo trailer apresenta, a direção de Kenneth Branagh, é pautada em tempos de raciocínio e apreciação e menos ação. O suspense criado torna-se menos denso e ganha um ar de sofisticação. Com diversos planos em movimento, seu trabalho merece algumas atenções que agraciam o filme. A primeira é a forma como vai destacando a presença dos personagens antes de embarcar no Expresso Oriente. A segunda é como conduz o espectador a ser um observador através das janelas do trem. Ali ele aplica uma ideologia sobre o que o público consegue ver, estabelece uma espécie de “o que possui por trás do vidro é real?”. Em terceiro, é o ritmo que estabelece lincando o tempo dentro do trem ao clima externo, onde a medida que a viagem vai ficando sombria, o clima vai se esfriando e escurecendo. E em quarto, é quando as cenas de flashback são apresentadas em p&b, numa referência quase gritante do cinema noir. Não vamos nem entrar na explicação do plano da “Santa Ceia” para não dar um spoiler. Talvez, por estar imerso em seu próprio personagem e confiar nesse elenco de peso, seu trabalho mais fraco é com a direção de elenco.

Se a produção resolveu investir em um casting de estrelas formado por Lucy Bevan, em partes até acertou. Mas um dos principais méritos de “Assassinato no Expresso do Oriente” é o departamento de arte. O design de produção assinado por Jim Clay e a direção de arte é compartilhada por Andrew Ackland-Snow, Will Coubrough, Charlo Dalli, Jordana Finkel, Phil Harvey eDominic Masters. Essa experiente equipe traz à produção um requinte absurdo. Se os tons da paleta são frios e escuros, com raras exceções, o trem estabelece outra condução de cores. Há a mistura do glamour da década e a estética arquitetônica/cenográfica da Art Déco. Sem contar na riqueza dos detalhes estabelecidos pelos objetos de cena e as texturas e caimentos dos tecidos. Talvez, a única área que deixou a desejar foi a caracterização, que em alguns poucos momentos soa falsa e forçada.

Do suspeito elenco, tanto dentro da trama quanto por seus méritos profissionais, são poucos que merecem nossa atenção. Infelizmente essa é a verdade. Por ter uma conduta diferente do livro, a falta de desenvolvimento dos personagens no filme e o protagonista dividir-se em dois, temos pontas soltas. A grande maioria beira o status de elenco de apoio. Penélope Cruz, soa forçada, Willem Dafoe poderia facilmente ser substituído por outro ator e Dereck Jacobi é quase um figurante. Michelle Pfeiffer segue interessante, mas quando tem a chance de destacar, suas “modificações faciais” simplesmente a fazem perder todo o ritmo e soa forçado. E, como um milagre, Johnny Depp consegue deixar seu pirata longe em quase 75% de sua participação. Os destaques vão para Josh Gad, de quem não esperávamos absolutamente nada, e para o próprio Poirot. A personificação criada por Kenneth Branagh é um deleite, cheio de trejeitos bem humorados e olhar profundo. Sem dúvida, ele consegue cativar e entreter facilmente o público.

Com tantos contrastes positivos e negativos pode até parecer que não é um bom filme, mas mesmo com esses defeitos, a adaptação da obra literária é uma das melhores já feitas. Felizmente acreditamos que a Agatha Christie não está revirando no túmulo, como deve ter feito com outras produções. Brincadeiras a parte, de fato a densidade do livro foi amenizada com o intuito de abranger um público mais expressivo. Mas, com uma boa preparação, a produção não caiu no popularesco e se manteve sólida, interessante e de uma refinação visual de cair o queixo. Não supera as expectativas que estavam altíssimas, mas entretêm, entrega o necessário, e uma deixa para uma próxima produção com o protagonista, e é bem mais interessante que quase todos os filmes de super herói que o público adora.

NOTA: 9

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